pantera negra - olho de diamante
quarta-feira
1005
Fotografia _ Efka
Lá, nos fundos dos mundos que nem se imagina, descobri isto: "Quando não temos o direito de ser diferentes, perdemos então, o privilégio de sermos livres."
Ora aí está uma boa meditação para hoje. É a loucura, como diz meu amigo WéWé!!!
)pantera(
1004
Fotografia _ Is
1003
Fotografia _ Is
1002
Desenho_FrodoK
sábado
1001
1000
quarta-feira
XXXIII
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As sombras são filhas do meu espelho constelar, navego nos seus rostos como quem navega em águas calmas. Nunca me calarei, porque a voz teima constantemente na mutação de si mesma. Sobram-me dias e noites onde o meu olhar somente descobre as vozes de que são feitas. Retratos perdidos de uma memória que teimam em vir à consciência e com seus longos braços agarram estes ombros e gritam: “heis, que somos tuas irmãs.”
A palidez é-lhes a substância primária de que foram feitas. Não me assusto, antes acordo a cada grito e faço uma matemática estranha. Assusto-me é a mim mesma!!!
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)Pantera Negra(
XXXII
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Paris. Noites loucas. Amores. Camas desfeitas pelo suor dos desejos. Beijos furtivos na tua boca. Olhares de ânsias fundas de desejos secretos nunca ousados. Diante de ti vi, Paris, a Lua a penetrar-me num címbalo de sedução às tuas mãos. Foram os teus beijos nessa noite que me condenaram à morte.
Quando parti deixei o meu outro mundo lá. Renasci, para nunca mais voltar!!! Amei-te, Paris, e hoje em mim se desloca uma lágrima. Crendo que devia ter-me atirado ao abismo dos teus braços confortantes sem olhar aos limites.
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)Pantera Negra(
XXXI
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Descasca-se os braços que em torno dos aros se envolvem em estranhos objectos, tendo como última resposta o mergulho no abismo do céu. Um sobe e desce perpetuo penetra nas raízes subtis dos loucos que se atrevem a sair do seu buraco e espreitar com olhos de céu o próprio céu de boca aberta.
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)Pantera Negra(
segunda-feira
XXX
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Em algum lugar, há um lugar onde tudo se realiza. Um lugar recôndito na memória do Universo. Feito de fios invisíveis que abraçam com cautela as raízes finas dos cérebros humanos, cuja musicalidade remanesce do som puro da alquimia levada a termo por muitos Sábios. Sábios escondidos que o mundo nunca conheceu, porque calados na sua mais perfeita Obra; e em algum lugar, há um lugar onde eles estão… talvez, bem perto das fibras que te rodeiam o coração.
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)Pantera Negra(
XXIX
Visto o corpo de alvas no torpor dos sentidos ainda adormecidos pela exaustão da noite. Há muito que sou uma Cindirela sem Principie Consorte. Ando pela noite vagueando e cobrindo as dores que contemplam a perdição dos que não tem voz e cubro-me a mim das injustiças da minha voz sem Útero e morada.
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)Pantera Negra(
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domingo
XXVIII
Tantra é a ferramenta que se usa para lidar com o Prakrit ou o mundo 'fisico sólido como se apresenta e é experienciado pelo Annamayakosha ("corpo físico"). A raíz tântrica 'TAN' sugere extensão e atenuação que nos dá a palavra tênue em português. TAN-TRA é o estado sublime que se cria quando a mente [Manes], o Ego (Ahamkara e o intelecto (Buddhi), se tornam inativos através de uma experiência de fusão sensorial.
(...)Existe uma grave má compreensão de que o Tantra só é e só pode ser usado pelos Tantrikas (adeptos do Tantra) por meio do sexo. E isto não é verdade.O Tantra é usado em todos os aspectos da prática Hindu. E nas venerações diárias estão incluídas certas posturas de corpo como prosptrações diante de uma divindade, a posição de Lotus, a purificação do corpo por meio do jejum e do banho a concentração da mente em uma imagem, exercícios de respiração pelo controle do desapego interno, o desapego do corpo e da mente pela devoção , e assim po diante. Nas formas devocionais puras de veneração, o corpo e a mente são oferecidos a Deus como um ato de sacrifício supremo e desapego interno, permitindo assim que as forças divinas se manifestem e façam o seu trabalho de purificação interna e transformação.(...)
(...)Sabemos que o despertar da Kundalini, a aquisição deste conhecimento, e a ativação dos Chakras podem nos oferecer uma conquista de auto-realização e conseqüentemente Benção suprema. Mas como somos ainda seres humanos imperfeitos, muitos Tantrikas usam deste desenvolvimento para causar danos a outros e se aproveitarem dos prazeres sexuais.E assim, eles se envolvem numa conduta errônea onde os mais prejudicados serão eles mesmos.
A escrituras sagradas levam uma grade ênfase em querer manter o Tantra secreto. Isto é porque este conhecimento sempre foi passado verbalmente de Guru para discípulo sob a promessa de estes não passariam a ninguem mais. somente um Guru teria a capacidade e a habilidade de analisar, avaliar e se assegurar de que o conhecimento passado não seria usado de forma errônea. Por esta razão também é que todos os métodos do Tantra Sadhnas são escritos apenas parcialmente, ou na forma de símbolos, sendo necessário sempre, se ter o auxílio de um Guru Mestre. (...)
Retirado do site SALVES
XVII
(...) A violência é um distúrbio da agressividade. A agressividade em si não é necessariamente má nem anormal. Pelo contrário! A agressividade é uma função estruturante da vida, da maior importância. Ela é ativada pela frustração. Enquanto a afetividade diz sim, a agressividade diz não. Sem a capacidade de dizer não, é impossível sobreviver. A afeti vidade e a agressividade regulam o nosso posicionamento ético diante do bem e do mal. Ambas fazem parte do relacionamento humano e são indispensáveis para viver. A afetividade acolhe o que nos faz bem e a agressividade repudia o que nos frustra e nos faz mal. Quem não afasta o mal, é logo dominado por ele. Como diz um velho ditado popular pernambucano: "Quem tem pena do Diabo, acaba sentado no lugar dele". (...)
Retirado do SITE
XVI
(...) Tem sido afirmado que os xamãs e curandeiros têm muita coisa em comum com as pessoas mentalmente doentes, ou pelo menos com aquelas que são psicologicamente instáveis, mas Eliade salientou, por exemplo, que os esquimós conseguem distinguir claramente uma doença "xamanística" de um caso comum de distúrbio mental.12 No decurso da doença iniciatória xamanística, o iniciado consegue encontrar a própria cura, o que é precisamente o que a pessoa comum que sofre de doença mental não consegue fazer. Além disso, os xamãs são os indivíduos criativos, os poetas e os artistas, das suas comunidades. Isso traz à baila uma questão que também é importante para os terapeutas de hoje - o chiste popular está bastante familiarizado com a figura do psiquiatra que é louco.13 Com relação a isso, gostaria de me associar à perspectiva dos esquimós: a pessoa que consegue curar a si mesma não é a pessoa doente e, sim, aquela capaz de ajudar os outros, pois essa pessoa está intacta em seu núcleo mais íntimo e possui a força do ego, dois pré-requisitos indispensáveis à profissão de terapeuta. Ela sofre sua doença iniciatória não por causa de uma fraqueza, e sim a fim de se familiarizar com "todos os tipos de doenças", para saber a partir de sua experiência o que significam a possessão, a depressão, a dissociação esquizóide, e assim por diante.
Tampouco seu desmembramento iniciatório é esquizofrenia. De acordo com a descrição mitológica, trata-se de uma redução ao esqueleto. Mas o que isso significa segundo os povos que criaram esses mitos é o indestrutível, o eterno no ser humano, e também aquilo que é perpetuado através da continuidade das gerações. Transportado para a linguagem atual, significa que o iniciado passa por uma "análise" no sentido de uma dissolução de todas as suas características não autênticas - por exemplo: convencionais ou infantis -, a fim de conquistar o caminho em direção ao que ele é em seu verdadeiro ser. Na linguagem junguiana, significa que ele se torna individuado, uma personalidade sólida que não é mais um futebol de afetos internos e projeções ou de tendências e modismos externos da sociedade.
No contexto etnológico, contudo, o curador também tem uma sombra específica, ou seja, essa vocação também possui um contra-aspecto sombrio. Trata-se da figura do xamã ou curandeiro demoníaco. A forma mais superficial disso é o terapeuta que é governado por um complexo de poder. É evidente que nessa profissão, na qual o indivíduo é seu próprio senhor e amo, e na qual as outras pessoas freqüentemente se agarram a ele de maneira ingênua e infantil, o abuso do poder representa uma enorme tentação. Por exemplo, o analista pode se ver tentando assumir o papel do pai ou do sábio, aquele que sabe o que está certo. Por mais repugnante que isso seja, não é, na minha opinião, o mais perigoso, visto que esses terapeutas são de modo geral devidamente importunados por pacientes igualmente possuídos pelo poder, ou punidos através do fato de que eles tendem a reunir ao redor de si um tedioso jardim-de-infância de pacientes que os atormentam com exigências.
O curador !demoníaco" é algo em escala maior, algo mais perigoso. Os Yakuts, por exemplo, acreditam que no momento da iniciação, o xamã tem a escolha de ser iniciado pelos espíritos da "fonte da destruição e da morte" ou pelos espíritos "da cura e da salvação".14 O que é confuso neste caso é que aquele iniciado pelos espíritos do mal também pode ser considerado um grande xamã.15 Mas para que esse indivíduo se torne xamã, muitas pessoas (freqüentemente do seu clã) tem que morrer16, ao passo que o clã de um xamã do lado da luz floresce.17 Por conseguinte, o primeiro tipo de xamã é chamado de "sanguinário". A partir de um ponto de vista psicológico, os xamãs do mal são aqueles que encontraram o acesso ao incosnciente e se mostraram suficientemente fortes para não serem derrubados por ele, mas que, por assim dizer, intencionalmente se rendem aos impulsos sombrios do inconsciente.
Jung descreveu o "demoníaco", que também poderia ser chamado de "magia negra", nos seguintes termos.18 Enquanto a "magia branca" se esforça para expulsar do inconsciente as forças da desordem, "a magia negra exalta os impulsos destrutivos como a única verdade válida em oposição à ordem até então prevalcente, além de aplicá-los a serviço do indivíduo em vez de a serviço de toda a comunidade. Os meios utilizados para isso são idéias, imagens e expressões primitivas, fascinadoras ou assustadoras, incompreensíveis para o entendimento normal, palavras estranhas", e assim por diante. "O demoníaco... se baseia no fato de que existem forças inconscientes de negação e destruição, e de que o mal é real". A pessoa que exerce essas forças de magia negra está geralmente possuída por um conteúdo incosnciente. Jung menciona aí o exemplo, de Hitler como um salvador negativo ou um destruidor. Na esfera da tradição xamanística, são conhecidos perigosos xamãs desse tipo, dos quais todo o mundo tem medo. Mircea Eliade fornece muitos exemplos da arrogância dos xamãs, que freqüentemente é vista como a verdadeira fonte do mal e como a causa do atual estado deteriorado do xamanismo.19 Na minha opinião, essa arrogância também existe entre os terapeutas modernos, e os que são marcados por ela são, creio eu, mais perigosos do que aqueles com treinamento profissional inadequado. Imagino que não haja nenhum procedimento organizacional ou racional para manter esses indivíduos fora da profissão da análise. Só podemos esperar que o público tenha discernimento suficiente para evitá-los.
Refletindo sobre os pontos apresentados até agora, vemos que a profissão do analista faz exigências eminentemente altas, exigências essas que dificilmente alguém é capaz de satisfazer inteiramente. graças aos céus os povos nativos também têm consciência de que não são apenas os grandes xamãs, mas também os xamãs secundários e menos importantes que podem curar as pessoas. A grandeza ou a importância de um xamã depende da freqüência e da profundidade com que ele penetrou no inconsciente e de quanto sofrimento ele suportou para fazer isso. É por isso que, na minha opinião, o que é absolutamente necessário não é nos tornarmos um grande curador e, sim, conhecermos nossos limites. Porque pode acontecer - e não é tão raro assim - que um paciente cresça mais do que nós, ou seja, avance mais no processo interior do que nós já avançamos.
A tendência instintiva do analista é então tentar trazer o paciente de volta para baixo, de uma forma redutiva, para seu nível de consciência. É somente quando está consciente de seus limites que ele pode evitar esse perigo e não rebaixar o elemento significativo e crescente nos outros através de um estilo de interpretação !"nada mais do quê". Quando o analista permanece consciente dos seus limites, ele pode às vezes atém mesmo ajudar um paciente que esteja além dele, sendo sincero e contentando-se em contribuir estritamente com a ajuda de que é capaz, deixando o resto por conta do paciente. Ele deve admitir seus pontos fracos e, invertendo as posições, pedir a compreensão do paciente. Nesse ponto, o processo deixa de ser um "tratamento", tornando-se um relacionamento que envolve um mútuo dar e receber. Isso, é claro, deve ser levado em conta na questão financeira na análise.
Um problema especial na profissão da análise é a criatividade. Sem sombra de dúvida, os melhores analistas são aqueles que, ao lado da profissão, estão envolvidos em alguma atividade criativa. Não é à toa que, nas sociedades primitivas, os curandeiros são também, de modo geral, os poetas, pintores e artistas do seu povo. Os elementos criativos e curativos estão muito próximos. "O ímpeto do caos ascendente", explica Jung, "procura novas idéias simbólicas que abarcarão e expressarão não apenas a ordem anterior como também os conteúdos essenciais da desordem. Essas idéias teriam um efeito mágico, mantendo enfeitiçadas as forças destrutivas da desordem, como foi o caso do cristianismo e em todas as outras religiões".20
O que Jung está dizendo aí, com relação ao nível coletivo em geral, também se aplica tanto a grupos menores quanto ao indivíduo. Em todos os contextos permanece a questão de encontrar no mais profundo de nós a influência ordenada do Si-mesmo e expressá-la nos símbolos, na arte, nas nossas ações. Se além de dar as consultas, o analista não estiver trabalhando também em sua tarefa, como salientou Jung, ele se torna escravo da rotina e, com tempo, torna-se uma analista insípido. Pude observar que nesta difícil profissão certo azedume e desprezo pelos nossos semelhantes tende a se insinuar em nós. É somente trabalhando continuamente em nossa tarefa criativa interior que podemos evitar essa deterioração. E não basta termos sentido uma única vez o chamado da vocação; o direito de praticarmos esta profissão precisa ser repetidamente conquistado dentro de nós. (...)
Retirado do site RUBEDO
Para ler na íntegra acessar ao mesmo.
sábado
XV
(Caminos exteriores que otros andan)
Aquí está el tiempo sin símbolo
como agua errante que no modela el río.
Y yo, entre cosas de tiempo,
ando, vengo y voy perdido.
Pero estoy aquí, y aquí
no tiene el tiempo sentido. Deseternizado, ángel
con nostalgia de un granito
de tiempo. Piensan al verme:
"Si estará dormido..."
Porque sin una evidencia
de tiempo, yo no estoy vivo. "
.
)JOSÉ HIERRO(
XXIV
quinta-feira
XXIII
quarta-feira
XXII
terça-feira
XXI
Quando conectados com os anjos, conhecemos em nós uma faculdade diferente de amar. Há em nós uma abertura diferente, onde as nossas barreiras de defesas se desvanecem. Há uma alegria que devora todo o ser. «Não é isso que sentes quando observas um ser pequeno (como já o foste, e te esqueceste!) e sentes que há qualquer coisa dentro de ti que se modifica?» Anjos, são crianças, as que povoam o mundo. «Não te esqueças disto: onde estiverem crianças, os anjos estão por perto.»
)Pantera Negra(
XX
Deleite dos sentidos profundos. Os sentidos da luxúria impregnada de paixão. A paixão que sendo vã, move todo o Ser num rasgo de vitória ou de derrota. «Dizem que se deve ter pelo menos uma paixão na vida, para conhecer a força do desejo e o aniquilamento total de todo o individualismo.»
)Pantera Negra(
XIX
Ata-se os cordões. Os cordões dos sapatos. O pé fica mergulhado dentro dele. Escondido, sobre uma máscara. O sapato. Assim, a alma fica também escondida em relação ao corpo. O corpo é o sapato com que a alma se veste. «Quem és tu? O sapato ou a alma? Quem realmente vive em ti?»
)Pantera Negra(
XVIII
Está frio... Está calor!!! Não se sabe ao certo o quê. É um certo sabor a quê sem sal ou açucar que invade os espaços quando estamos nem se sabe onde. Mergulhados algures entre o aqui e agora, entre um presente e um passado que nos chega esse estado indefinido. Nem o percebemos, e é essa a ironia. Reagimos quando estamos ou não em conformidade com as coisas, e de tudo isso vem esse estado de quê difuso. «Afinal, está frio ou quente aí dentro de ti? Sabes, o porquê?»
)Pantera Negra(
XVII
Lugares desconhecidos ou esquecidos??
Paredes que não pensamos. Estão alí, quase inexistentes. Paradas e ausentes. Os olhos não a percebem. Percorrerem-na cegos e mergulhados em detalhes mentais. «O que é uma parede para si?» - Já pensou nisso? - Ela está a um palmo do seu nariz e voçê não a vê. Como pode algo tão óbvio ser tão esquecido? Todos os dias se depara com ela, a parede, em todos os lugares comuns. «Já pensou na sua parede interior? Com que desenhos a pinta?»
)Pantera Negra(
XVI
A vaidade da Madame, jamais, aquecerá os corações que anseiam por calor humano. Ela, a Madame, dorme sobre a fogueira das vaidades fúteis e alimenta-se da exposição dela.
)Pantera Negra(
segunda-feira
XIV
Quando acordou, os seus cabelos tinham se transformado em fios de gelo!! Dizem que a sua beleza era tanta, e que como castigo nasceram-lhe fios transparentes, e porque segundo se ouviu, já nascera com coração de gelo!
XIII
Nada mais faço do que comer LEGUMES!!! Em nome de todos os animais, na minha boca não entram, pelo respeito que merecem. Pergunto-me: "Como é que se pode comer defuntos??" Nada melhor que substituir carne animal por SOJA.
XII
Oh, oráculo fala-me a verdade!! Diz-me que sou a mais bela entre as mil mulheres que habitam dentro de mim?
XI
Criamos a chama Amarela para termos a Mente Iluminada pela Luz Divina. Da Mente Iluminada nasce em nós o Céu Azul da tranquilidade.
(Pantera Negra)
sábado
X
Silêncio,
eis a tarefa
de todos os gatos.
Poucos sabem perscrutar
(talvez ninguém em plenitude)
o grau de solidão necessária
ao saber auto suficiente
para ser felino e doméstico
em sua tarefa de monge
guardião do inextricável
em quem o homem não percebe
a metafísica natural,
recolhimento
saber
sensualidade
e aceitação.
(Artur da Távola)
a beleza, o carisma, o fino trato,
um simples gato pode ser poesia...
1
Chegando devagarinho,
o gato leva o silêncio
ao canto do passarinho.
O amor indiscreto
dos gatos de rua
ofende a pureza da lua?
3
Na mesa posta,
o gato se lambe
porque se gosta.
Um pulo de gato,
gracioso e exato,
qual verso no ar...
5
Tapeando a rosa,
o gato antegoza
ciúmes do beija-flor...
O rabo do gato no muro
descreve uma interrogação
que insulta o cachorro no chão.
7
No rastro do rato,
o gato, sem bulha,
mergulha no mato.
Os olhos do gato preto,
repiscam no negrume,
namorando o vagalume.
9
Gato gaiato,
bola de pelo,
rola o novelo.
A gata dengosa no cio,
olhando o telhado vazio,
parece gemer sete vidas.
Resta vaga magia
quando o gato afia
as unhas no tapete.
A tarde se fica,
enquanto o gato
dorme na bica.
13
Na poça de rua,
um gato bebendo
o brilho da lua.14
Do gato, restou o ronronado;
mas do canário, coitado,
apenas as penas.
No contrazul da janela,
qual nuvem no contravento,
gato branco passa lento...
Um gato vadio
miando no frio:
assim me sinto.
17
Olhar de gato,
mesmo com sono,
ainda decifra o dono.18
Na rua antiga, cena de aquarela,
em cores triviais de tarde morna;
a madorna dum gato na janela.
O olhar da gata persa
conta uma estória inversa
das mil e uma noites.
Um gato pardo de andar
esguio e desafio
no olhar de esfinge.
21
Por causa dum gato,
sem dono nem sono,
perdi meu sapato.(Bartolomeu Correia de Melo)
IX
Há quartos perdidos no meio da cidade. Solitários e que esperam o corpo humano, para aquecerem os espaços e perderem-se no tempo em miragens mergulhadas de ternura.
Há quartos mergulhados em solidão à espera de serem forjados e mergulhados numa história que lhes é própria. Uma história sobre intimidades nunca reveladas. Dizem que "a verdadeira história dos quartos nunca é revelada. Que o silencio é mais pesado de que um quarto solitário."
(Pantera Negra)